domingo, 27 de setembro de 2009

Regra.

Nem todo amor é perfeito.
Nem todo sorriso é sincero, nem todo conselho é seguro, nem todos os caminhos te levam a Roma.
Nem todo sábado é de festa, nem todo sapato tem salto.
Nem todas as pessoas se importam, nem todos que você conhece são amigos. Nem todo céu é azul, nem toda história tem fim, nem todo casaco faz passar frio, nem toda noite tem estrelas.
Nem toda mulher usa batom, nem toda piada tem graça, nem todo preço é justo, nem todo trabalho é digno, nem todo esforço é válido. Nem todas as folhas estão em branco, nem todas as palavras dizem o que devem dizer, nem toda viagem tem rumo.
Nem toda imaginação é fértil.
Nem todo abraço acalma, nem todo som agrada, nem toda paz é eterna. Nem toda guerra é santa, nem todo sabor é doce, nem todos os meses são de chuva, nem todas as bagagens são de mão. Nem todas as chaves abrem portas, nem todas as vontades são satisfeitas, nem todos os sonhos acontecem.
Nem todas as flores são vermelhas, nem todos os medos se explicam, nem todas as leis se cumprem, nem todos os passos caminham juntos. Nem todo crime tem provas, nem todas as nuvens têm formatos. Nem todas as princesas mordem maçãs envenenadas, nem todos os príncipes andam a cavalo.
Nem todos os formatos são simétricos, nem todos os poliedros são convexos, nem todo elemento reage, nem todo remédio cura, nem toda música é difícil de dançar.
Então, como todos os dias parecem agora fazer sentido para mim?
É que nem toda exceção faz a regra, mas sei apenas que não há mais exceção.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A letra L que quis começar o seu nome, quis começar o meu também.

Não me lembro da data exata em que deixei de ser filha única.
Mas foi no mesmo dia em que conheci você.
Não sei exatamente como sabíamos que aconteceria, mas aconteceu. E acontece sempre. Como uma espécie de acontecimento que nunca termina de verdade.
Acontece.
Quando você olha de lado e sorri, porque eu estou ali, e então são meus esses sorrisos. Quando você diz que tudo vai terminar bem, e me sinto forte o bastante para recomeçar. Quando sinto sua falta, tanto quanto a sinto perto, e sei que estamos próximas mesmo que eu não possa te ver. Acontece.
É exatamente quando percebo que você é mesmo a melhor amiga que eu poderia ter.
E a letra L que quis começar o seu nome, quis começar o meu também. E o Y do seu Laryssa, de fato tem o mesmo som que o meu I.
Então eu sei. Acontece.
E aconteceria de uma forma qualquer, ainda que diferente da forma como aconteceu.
É que você é uma daquelas pessoas que eu encontraria fatalmente, porque estive destinada a encontrar. Por qualquer caminho que eu seguisse, depois de qualquer escolha que eu fizesse, para qualquer direção que eu andasse, lá estaria você. Inevitável.
Para ter meus segredos junto aos seus. Para que nossos risos fizessem eco um do outro, e para que nossos planos tivessem mais sentido juntos.
E nós viveríamos as mesmas histórias que vivemos. Viveríamos mil vezes e mais uma, se preciso fosse. Porque há sempre tempo, para as coisas que realmente valem a pena.
Então eu poderia ter traçado um projeto, e você seria parte dele.
Com seus olhos pintados de preto, e suas unhas do tamanho das minhas. Você com seu cabelo colocado de lado, e a sua mecha meio ruiva que nunca se apaga. Você e seu jeito de achar tudo engraçado, colocando as mãos na frente do rosto – como se não pudessem saber que você ri. Seus exageros, seus dramas e suas perguntas com respostas óbvias. Você e seus conselhos sinceros para minhas situações inesperadas. Você e todos os seus gestos e tipos, dos chaveiros da sua bolsa aos anéis dos seus dedos. Você e os dadinhos roxos e pretos da pulseira no seu pulso. Acredite, aconteceria.
E é exatamente quando percebo que você é mesmo a melhor amiga que eu poderia ter.
Você, só você. E fim.

domingo, 13 de setembro de 2009

Chegamos ao fim.

Então chegamos ao fim, e nem vivemos felizes para sempre. Essa é mais uma das minhas histórias, e deve ter sido tão pouco real quanto qualquer um dos meus faz de contas. Mas não posso evitar que meu coração acredite que também houve verdade. Em cada fantasia, mesmo que parecesse não haver. Houve verdade quando te falei sobre o amor, porque era a explicação menos racional e mais sincera que eu tinha para te oferecer. Houve verdade quando você esteve quieto e eu tentei acelerar a câmera lenta dos seus gestos. Houve verdade nos abraços e nos sorrisos. Houve verdade de sentimento, daquelas verdades inquestionáveis, que não se resolvem com a mesma lógica de uma equação matemática. Houve verdade no meu modo de te enxergar, e na forma como enxerguei as coisas ao seu lado. Houve verdade quando discordamos e quando dividimos as mesmas ideias. Houve verdade nas frases sérias, nas declarações previsíveis e nas brincadeiras infantis. Houve verdade quando fechei os olhos e deixei que você decidisse o que fazer. Houve verdade nos sons, nos gostos e nas cores. Houve verdade entre o encaixe das minhas mãos nas suas. Houve verdade no timbre da sua voz, na reação das suas expressões e nos movimentos dos seus olhos para dizer que eu estava errada. Houve verdade quando escolhi você. Houve verdade quando estive por perto. E também quando estive longe. Houve verdade quando entendi que durante muito tempo estive no lugar errado. Houve verdade quando finalmente deixei de te escolher. Houve verdade quando as cenas se transformaram em outras sequências, e quando surgiram novos papéis para novos personagens. Quando eu não protagonizei o que outro dia protagonizava, quando cortei pequenos laços que nos atavam, quando bifurquei nossos caminhos e segui na direção contrária. Houve verdade. Quando respirei mais fundo e vi que todas as minhas impressões sobre nós dois haviam mudado. Quando parou de fazer sentido acreditar, e todos os pequenos grandes enganos foram desfeitos. Quando abri a mão para que ela não encaixasse, e aceitei enfim que eu estava – o tempo inteiro – errada, como ouvi que estaria. Houve verdade. É que as coisas que passam não se tornam menos verdadeiras por terem passado. Apenas mudam. Aquilo que havia, e que eu disse que haveria sempre, já não há mais. Adivinhe. Eu realmente não estava sempre certa. E só espero que você não se importe, que eu leve a parte que me cabe em tudo isso. A parte contrária à sua, onde sempre – e inevitavelmente – houve verdade. Porque chegamos ao fim, e nem vivemos felizes para sempre.

sábado, 5 de setembro de 2009

Isso também vai passar.

Então ela desejava voltar a ser uma garotinha, para acreditar que tudo aconteceria de acordo com seus desejos. Ela desejava voltar a ser uma garotinha, para se lembrar de como o mundo era simples, de como tudo era fácil, e de como a vida era nada além de um dia depois de outro. Ela desejava voltar a ser uma garotinha para olhar as pessoas de baixo para cima, e pensar que todas eram - de fato - criaturas grandiosas. Ela desejava voltar a ser uma garotinha, para ter seus pedidos atendidos e ficar acordada até mais tarde nas noites especiais. Ela desejava voltar a ser uma garotinha, para perguntar por que, e ter uma resposta. Ela desejava voltar a ser uma garotinha. Para pensar que quando amamos alguém, esse alguém nos ama de volta. Para continuar confiando, sem desacreditar todas as verdades que já tivesse ouvido. Para sentir-se bem por inteiro, sem culpas, rancores ou decepções. Sem marcas. Ela desejava voltar a ser uma garotinha para sair correndo quando sentisse vontade. Para falar sinceramente, abertamente, sem ninguém para criticar. Para contar aos outros que quando magoamos alguém, a parte mais nobre é aprender a se desculpar - e a parte mais difícil é aceitar que isso nem sempre seja o bastante.
Ela desejava voltar a ser uma garotinha para aprender novamente o que é certo e o que não é. Para ouvir histórias nas quais todos viviam felizes para sempre, como se a realidade também pudesse terminar assim. Para justificar seus sustos dizendo que não poderia ficar sozinha no escuro. Ela desejava voltar a ser uma garotinha. Para que quando se machucasse, e pensasse ser a mais desastrada e boba de todas as garotinhas, alguém lhe dissesse: 'não chora, isso também vai passar.'