Feliz aniversário.
Então você perguntou:
- E quem vai ficar aqui comigo?
E de um lado você e a pergunta enorme com uma resposta que era ainda maior e que ultrapassava tudo. E do outro, a escada e todas as coisas pequenas que, acumuladas, também eram gigantes e quase me arrastavam. E parada ali no meio, eu sabia que se permanecesse por mais algum tempo, permaneceria definitivamente, e o tempo seria sem fim. Então não respondi. Ou respondi qualquer jogo desconexo de palavras confusas e descombinadas, para que você dissesse algo que me permitisse ir. E você disse:
- Se cuida, Lari.
E me abraçou. E abraçando, você soube que uma partezinha de mim continuaria ali sentada ao seu lado. E seus risos ainda seriam os mesmos, pelas mesmas piadas, dos seus mesmos professores preferidos. E a partezinha de mim poderia virar e dizer: não tem graça. Mas quantas coisas não tiveram graça e se tornaram dotadas de um certo encanto, trazido pelo tempo ou pela saudade. E eu fui. Deixando que aquela partezinha pudesse vigiar o engraçado que somente você entenderia, e o dolorido que também estava apenas sob sua compreensão. Eu fui, e tomei conta de mim, e dos meus próprios risos que você vinha sempre verificar, degrau a degrau, para certificar-se de que eu não estava sozinha, e de que eu ficaria bem. E ficamos todos, afinal. Porque eu pedi que cuidassem de você. E ambos sabíamos que não nos sairíamos tão mal assim, não é? Ou que simplesmente era preciso aprender a nos sair razoavelmente melhores. E onde não mais me cabia, você acomodou aquela partezinha de mim. E onde antes não haveria você, eu abri um espaço novo para nossas conversas velhas e confortáveis. Você descendo diariamente, e eu subindo. As mesmas escadas. E os mesmos cuidados.
Então se cuida. Se cuida como eu não pude cuidar, apesar de ser sua amiga e ter deixado tantas vezes que você cuidasse. De mim, para mim ou por mim. Então obrigada por, naquele dia, ter mantido em você o lugar que eu pensei ter perdido em quase todos onde eu morava. E obrigada por ter guardado a minha partezinha em segurança, para que ela o acompanhasse sempre que você sentisse minha falta. E, finalmente, obrigada por ter sentido. E por, mesmo assim, ter me deixado ir. Então se cuida. Procura essa felicidade tão grande que eu quero que você encontre. E aonde quer que você chegue, o que quer que você alcance, independente do que mude, por favor: não se vai.