Fechei os olhos com você.
Eu, e exatamente o hábito de mantê-los abertos, nos esquecemos dos incontáveis motivos que poderíamos listar.
E por que eu listaria motivos, se poderia apenas fechar os olhos?
Os mesmos olhos que sempre estiveram tão abertos por você. Sempre tão prontos para decorar suas expressões ou seu sorriso. Os mesmos olhos que acompanhavam seus passos, seus percursos ou seus movimentos. Os mesmos olhos que, diante dos seus, conseguiam ver as cores refletidas mais de perto.
Os meus olhos quase vidrados, quase travados, quase multifacetados em divisões de você.
Eles poderiam permanecer atentos.
Poderiam continuar despertos.
Até que estivemos mais próximos.
Até que batemos compassos de um mesmo ritmo, formando dois pares com meus olhos nos seus; traçando as possibilidades óbvias do que havia para acontecer.
E então tudo aconteceu.
Os nossos gestos se encontraram. Nossos jeitos se encaixaram. Nossos gostos se provaram.
E eu fechei os olhos com você.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Então você não vê aquelas folhas?
Então você não vê aquelas folhas que caem e se juntam na calçada?
Exatamente aquelas folhas amareladas que o vento varre e espalha, você não as vê?
Sempre que se amontoam em uma esquina, são sopradas para outra. Parecem por um instante calmas, até serem novamente reviradas. Giram, dançam, varrem e se vão.
Aquelas folhas não voltam.
Mas você não percebe.
E sem que perceba, continua esperando entender.
Todos os seus medos no escuro embaixo da cama, você entende? Seus compromissos, suas incertezas, suas hesitações e seus planos. Seus sentimentos, suas lógicas, contradições e desejos.
Mudam todos como aquelas folhas. Bata um sopro.
Alguns dos seus segredos um dia serão contados sem consequências. Talvez o que é errado, amanhã esteja certo. E talvez algumas regras deixem de fazer sentido. Pessoas pelas quais você não esperava, podem vir a esperar por você. E as histórias que não te interessam, você pode querer escutar, repetindo-as até acreditar nelas também.
Então você não sente que o vento nunca para?
Toda pausa é tão calma quanto temporária.
Basta um sopro.
Certas coisas não retornam depois que voam.
Rostos e nomes que vamos esquecendo sem esforço. Companhias que perdemos sem nenhum motivo aparente. Espaços que vamos preenchendo, lugares que vamos ocupando, como objetos que vamos substituindo.
Mas algumas folhas vem, enquanto outras se vão.
Então você não vê?
Nos perguntamos como há tanto acontecendo tão rápido; como tantas mudanças surgem sem que nada deixe de parecer permanente.
Aquelas folhas que ficariam paradas na calçada o quanto fosse necessário.
Pelo tempo de uma existência. Ou até um próximo sopro.
Exatamente aquelas folhas amareladas que o vento varre e espalha, você não as vê?
Sempre que se amontoam em uma esquina, são sopradas para outra. Parecem por um instante calmas, até serem novamente reviradas. Giram, dançam, varrem e se vão.
Aquelas folhas não voltam.
Mas você não percebe.
E sem que perceba, continua esperando entender.
Todos os seus medos no escuro embaixo da cama, você entende? Seus compromissos, suas incertezas, suas hesitações e seus planos. Seus sentimentos, suas lógicas, contradições e desejos.
Mudam todos como aquelas folhas. Bata um sopro.
Alguns dos seus segredos um dia serão contados sem consequências. Talvez o que é errado, amanhã esteja certo. E talvez algumas regras deixem de fazer sentido. Pessoas pelas quais você não esperava, podem vir a esperar por você. E as histórias que não te interessam, você pode querer escutar, repetindo-as até acreditar nelas também.
Então você não sente que o vento nunca para?
Toda pausa é tão calma quanto temporária.
Basta um sopro.
Certas coisas não retornam depois que voam.
Rostos e nomes que vamos esquecendo sem esforço. Companhias que perdemos sem nenhum motivo aparente. Espaços que vamos preenchendo, lugares que vamos ocupando, como objetos que vamos substituindo.
Mas algumas folhas vem, enquanto outras se vão.
Então você não vê?
Nos perguntamos como há tanto acontecendo tão rápido; como tantas mudanças surgem sem que nada deixe de parecer permanente.
Aquelas folhas que ficariam paradas na calçada o quanto fosse necessário.
Pelo tempo de uma existência. Ou até um próximo sopro.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Dia do Amigo.
"E eu espero que você não se importe, que eu coloque em palavras, o quanto a vida pode ser maravilhosa, se você estiver em meu mundo." (Elton John)
sábado, 18 de julho de 2009
Das vidas que queríamos ter.
Imagino que a vida seja uma eterna busca.
No fundo estamos todos sempre procurando por algo a mais, que pode vir a ser uma resposta, uma conquista, um sinal ou uma espécie qualquer de milagre.
Estamos todos sempre à espera. Como crianças que puxam uma cadeira para perto da janela, e esticam a ponta dos dedos, porque acham que podem tocar o céu.
Vivemos o acontecido e parte do que está por acontecer. Somos quase acontecimentos.
Damos mais e mais voltas além do que pretendemos, para voltar ao lugar de onde partimos.
Temos medos imediatos, respostas curtas, resumos extensos e assuntos inacabados. Construímos planos impossíveis e nos sustentamos por sonhos inalcançáveis. Desacreditamos verdades absolutas e dispensamos as provas que se oponham às nossas ilusões. Fragmentamos teorias inteiras em pequenas partes supostas. Nos equilibramos em manobras, deslizes, tropeços e inclinações. Disciplinamos aventuras, mesmo quando movimentamos o tédio.
Inevitavelmente, nos contradizemos.
Preenchemos nossos vazios em compensações. Um amor, um projeto, uma fuga.
Escrevemos palavras soltas para prendê-las. Para torná-las quase prolongamentos; extensões das ideias, dos sentimentos, ou das vidas que queríamos ter.
No fundo estamos todos sempre procurando por algo a mais, que pode vir a ser uma resposta, uma conquista, um sinal ou uma espécie qualquer de milagre.
Estamos todos sempre à espera. Como crianças que puxam uma cadeira para perto da janela, e esticam a ponta dos dedos, porque acham que podem tocar o céu.
Vivemos o acontecido e parte do que está por acontecer. Somos quase acontecimentos.
Damos mais e mais voltas além do que pretendemos, para voltar ao lugar de onde partimos.
Temos medos imediatos, respostas curtas, resumos extensos e assuntos inacabados. Construímos planos impossíveis e nos sustentamos por sonhos inalcançáveis. Desacreditamos verdades absolutas e dispensamos as provas que se oponham às nossas ilusões. Fragmentamos teorias inteiras em pequenas partes supostas. Nos equilibramos em manobras, deslizes, tropeços e inclinações. Disciplinamos aventuras, mesmo quando movimentamos o tédio.
Inevitavelmente, nos contradizemos.
Preenchemos nossos vazios em compensações. Um amor, um projeto, uma fuga.
Escrevemos palavras soltas para prendê-las. Para torná-las quase prolongamentos; extensões das ideias, dos sentimentos, ou das vidas que queríamos ter.
sábado, 11 de julho de 2009
Questão de sentimento.
- Talvez seja questão de sentimento. – ela disse.
- Talvez.
Na verdade ela não sabia.
Mas sentir já era, essencialmente, inexplicável. Sentir implicava em conformar-se, da mesma maneira com a qual nos conformamos com as coisas que não podemos controlar. Sentir era o resumo e o conjunto de tudo, porque levava todas as causas para um desfecho comum.
“Questão de sentimento” parecia a peça perfeita de encaixe. Parecia a solução final de um enorme cálculo de incógnitas, e, ironicamente, dispensava qualquer lógica.
- Me parece óbvio.
- Talvez não me pareça – ele disse – porque talvez as coisas não possam ser óbvias e ao mesmo tempo sentimentais.
- E o que elas seriam então? – ela perguntou.
- São aquilo que escolhemos que sejam.
Parecia mais fácil ouvindo-o falar assim.
Uma mera escolha entre possibilidades.
O óbvio era um domingo de sol. O sentimento era a sensação de recomeço num dia qualquer de quarta-feira. O óbvio da lâmpada era a luz; o sentimento era o gênio com seus três desejos. O óbvio era um uniforme. O sentimento era uma nova extravagância. O óbvio era a lei da atração entre dois opostos. O sentimento era a procura dos ajustes entre as pequenas diferenças.
Óbvio se planejava. Sentimento acontecia.
- É a primeira vez que penso assim – ela disse – e nunca imaginei que seriam razões tão contrárias. Como cinza ou azul.
- E qual você escolheu?
Ela pensou sem necessidade. Pelo hábito de parar e pensar, mesmo que qualquer um pudesse adivinhar a resposta.
- Escolhi o azul.
E ele a olhou e sorriram.
Questão de sentimento.
- Talvez.
Na verdade ela não sabia.
Mas sentir já era, essencialmente, inexplicável. Sentir implicava em conformar-se, da mesma maneira com a qual nos conformamos com as coisas que não podemos controlar. Sentir era o resumo e o conjunto de tudo, porque levava todas as causas para um desfecho comum.
“Questão de sentimento” parecia a peça perfeita de encaixe. Parecia a solução final de um enorme cálculo de incógnitas, e, ironicamente, dispensava qualquer lógica.
- Me parece óbvio.
- Talvez não me pareça – ele disse – porque talvez as coisas não possam ser óbvias e ao mesmo tempo sentimentais.
- E o que elas seriam então? – ela perguntou.
- São aquilo que escolhemos que sejam.
Parecia mais fácil ouvindo-o falar assim.
Uma mera escolha entre possibilidades.
O óbvio era um domingo de sol. O sentimento era a sensação de recomeço num dia qualquer de quarta-feira. O óbvio da lâmpada era a luz; o sentimento era o gênio com seus três desejos. O óbvio era um uniforme. O sentimento era uma nova extravagância. O óbvio era a lei da atração entre dois opostos. O sentimento era a procura dos ajustes entre as pequenas diferenças.
Óbvio se planejava. Sentimento acontecia.
- É a primeira vez que penso assim – ela disse – e nunca imaginei que seriam razões tão contrárias. Como cinza ou azul.
- E qual você escolheu?
Ela pensou sem necessidade. Pelo hábito de parar e pensar, mesmo que qualquer um pudesse adivinhar a resposta.
- Escolhi o azul.
E ele a olhou e sorriram.
Questão de sentimento.
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