terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre botões e entregas

Seria como um corte latejante. Te cortar de mim, ou me privar de ti, seria rasgar carne da própria carne. Rasgar com ferocidade, entende? Sem botões. Porque, às vezes, de botão em botão, é como se seus dedos fossem cortantes e também rasgassem: meus temores, meus horrores. Você os desfia e me devolve os retalhos. Me devolve aos retalhos. E o que resta de mim em mim é cada vez mais livre, cada vez mais doce, cada vez mais seu. Num procedimento quase cirúrgico, é como se seus dedos cortantes extirpassem defeitos que eu sozinha não pude extirpar. Seus dedos cortantes se transformam em seguida em pétalas e se depositam sobre o meu corpo que, de repente, é quase uma flor. E somos botões e coisas que florescem, não somos? Nós florescemos sem sequer perceber. Nos regamos nos cortes, na carne, nos dedos. E desabrochamos a parte mais fértil e latejante que havia por dentro dos botões. E olha, amor, nem é primavera, mas as colheitas disso tudo serão prósperas. De estação em estação os cortes cicatrizam. E porque não me privas de ti, eu não sangro. Qualquer retalho de mim que se emende aos teus nos costura cirurgicamente. E nas tuas mãos, enfim, eu descanso e desabrocho. E me entrego.

7 comentários:

  1. Larissa, lindo texto, como sempre. Pôs um sorriso triste nos meus lábios...sorriso por você, sempre. Tristeza porque esse rasgar, emendar e entregar é quase sempre tão difícil, tão arriscado. Vou te confessar que tenho medo. Muito. E não sei mais se isso ajuda ou não. Quisera eu rasgar, emendar e entregar como você, minha querida. :)

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  2. que lindo lari!
    Ainda bem que cicatriza né?
    roubei e coloquei um pedacinho no meu face, digo logo! hahahaha

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  3. Estava passeando pelos blogs por aí, e achei aqui! Gostei! :) Estou seguindo! Depois dá uma passada no meu pra conhecer!

    Beijos :)

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  4. aiai.. essas suas palavras.. me fazem acreditar, ainda não sei bem e quê.. mas acredito nelas. e espero que minhas feridas cicatrizem-se tbm.

    beeijos Laah.

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  5. Estou realmente sem palavras depois do que encontrei aqui nesse texto. Você simplesmente o construiu com uma ferocidade e sutileza que me deixaram impressionado. É sempre bom ter alguem pra nos evitar as cicatrizes, as dores de estar sozinho. Os frutos sao sempre prósperos, apesar de amargos em algumas estações.
    Parabéns Larissa!

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  6. Ual. Cada descrição combina com a doçura rasgada de um peito que sangra e dói. Intenso, pulsante.

    As cicatrizes tatuadas nos detalhes, são espasmos de um novo recomeçar!

    Beijo. Parabéns!

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  7. " E olha, amor, nem é primavera, mas as colheitas disso tudo serão prósperas. De estação em estação os cortes cicatrizam."
    na verdade não há muito o que falar, as palavras que vc dita aqui são capazes de suprir qualquer comentário! =D

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