sábado, 16 de janeiro de 2010

Estávamos distraídos.

Foi quando estávamos distraídos, que aconteceu. E é como acontece com quase todos aqueles que se distraem. Não apenas o suficiente para tropeçar entre dois passos, ou para esbarrar em uma qualquer coisa que segundos antes não estivesse à sua frente. Acontece com os que se distraem de verdade. Com os que não apenas permitem que coisas incríveis (e não planejadas) aconteçam, mas que também permitem a si mesmos encontrá-las. Acontece, assim, ao acaso.
É que quando estamos distraídos, nos reconhecemos. Entre tantas e tantas pessoas - perdidas e confusas - reconhecemos um mesmo jeito de dar as mãos, uma mesma forma de olhar em volta, um mesmo sorriso ou um mesmo gesto. Então, acontece. Os sentimentos são acréscimo, consequência.
Estamos distraídos e é quando o telefone (que nem esperávamos que tocasse) finalmente toca. E as mãos se encaixam, e os rostos combinam, e as palavras se completam para formar uma mesma frase. Nos completamos também, porque nos admitimos mais incompletos. Há a consciência do que nos falta, muito mais forte do que seu preenchimento. Gostar nem sempre é preencher. É preciso haver algo vazio, para que se encha. Então cada riso nos leva a uma necessidade maior do riso seguinte, como se cada som pudesse nos atingir de maneira mais profunda. Ganhamos a necessidade crescente do outro, o que nos torna mais sedentos de também sermos necessários. É isto a que chamam de amor? Esse reconhecimento de iguais, sob qualquer mínimo aspecto, entre incontáveis criaturas desconhecidas e solitárias. Prazer, amor.
É que deve ser mesmo preciso estar distraído.
Porque, de repente, o telefone já não toca. E sobram alguns dedos das mãos que já não se encaixam, e os rostos se desconhecem, e as palavras se desencontram. Acreditamos que bastamos a nós mesmos, e por não aceitarmos nossos vazios, não temos mais como preenchê-los. Os risos tornam-se induzidos, para satisfazer uma necessidade que cresceu mais do que o próprio amor. E tudo porque deixamos de nos distrair. Tudo porque desistimos de dar a mesma permissão de antes, e passamos a tentar controlar os risos, telefonemas e encaixes.
Às vezes é preciso apenas estar aberto, meio vazio. Estar à toa. Não apenas o suficiente para tropeçar entre dois passos, ou para esbarrar em uma qualquer coisa que segundos antes não estivesse à sua frente. Mas para reconhecer.
Foi quando estávamos distraídos, que aconteceu.

11 comentários:

  1. Nos próximos dois dias, respondo aos comentários anteriores.

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  2. por que só quando estamos distraidos que as coisas boas do mundo aparecem para nós...que enfim,venhamos ficar distraidos sempre...

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  3. Quando não procuravamos nada tudo aconteceu, quando simplesmente nos encontramos, sem pensar.

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  4. "É isto a que chamam de amor?"
    Acho que sim Larissa. Estar com a pessoa ao lado e se sentir como estivesse com você mesmo (?!?). Totalmente distraído.

    Abração

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  5. Que lindo. É mesmo quando não esperamos, que acontecem as melhores coisas.

    bjaooo ;*

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  6. Flor, lindo esse texto...


    A felicidade chega sem pedir licença e aparece quando estamos distraídos... ela vem e vai...

    Um beijo

    Parabéns pelo blog!!!

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  7. Ahh! Lindo! Nos momentos de distração as coisas... vêm. E tudo fica maior, o sentimento, a surpresa... amei!

    Desculpa a demora, tava difícil entrar na net.

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  8. seria bom ter continuado vivendo nessa deliciosa distração.. mas às vzs a seriedade é necessária, e certas coisas aparecem resultando no fim de outras... avida segue e outra vez reaparecerá a tal distração ^^

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  9. nessa pequena distração de agora, sentir vontade de me distrair de novo, de me apaixonar de novo... ta perigoso eu continuar lendo seus textos... assim eu me acabo ;P

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