sábado, 20 de fevereiro de 2010

No País das Maravilhas.

"O estudante de biomedicina Alcides do Nascimento Lins, de 22 anos, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi morto a tiros na madrugada deste sábado (6), em sua casa, no Recife. Na época de sua aprovação no vestibular, ele foi o primeiro colocado da rede pública. Segundo testemunhas, os criminosos estavam procurando por vizinhos do rapaz, mas como ele não soube informar onde estavam, mataram a vítima. (...)"

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Por que será que é cada vez mais difícil abrir a porta da frente para as ruas, para as pessoas ou para os sonhos? Por que será que a cada dia que passa e a cada volta que se dá, nos sentimos mais presos e limitados?
Às vezes quase esquecemos como o mundo se tornou injusto e furioso, e criamos nosso próprio País das Maravilhas, sem pensar que até mesmo a própria Alice dessa história desperta no final.
O problema é que raramente nós despertamos.
E permanecemos girando, por inércia ou força de hábito, enquanto as estruturas que nos sustentam pouco a pouco desmoronam. Até que algumas coisas perdem seus eixos, e começam a cair. É o que nos assusta e nos acorda, por fim.
A mão que bate nos nossos vidros fechados, às vezes tão pequena e frágil quanto a própria esperança de um dia não bater mais. E as calçadas disputadas, pelas quais nós quase não nos atrevemos a passar - porque de simples passagem elas se tornaram bancos, casas, camas e lares. As vidas que começam fadadas ao fracasso, e que terminam às vezes sem choro, sem vela, sem dor. Aquelas tantas outras vidas que enterramos, que esquecemos, que negligenciamos sem nem mesmo prestar atenção. E as próprias vidas que nos cercam, aquelas de quem amamos, a quem protegemos com passos mais apressados, mãos dadas e uma dose de fé.
Tudo que se tornou tão perigoso a ponto de nos roubar o sono, a coragem e até mesmo a liberdade. Tudo para nos despertar. Tudo para que consigamos encontrar uma forma de perceber melhor o que se passa à nossa volta. Para que possamos entender que mudar um mundo inteiro será sempre abstrato, se nunca tentarmos começar.
Esse também me doeu.
E foi para quem teve muito mais ousadia e dignidade do que qualquer palavra minha poderia ter.
Foi para os que vão ler e para os que não vão. Esse foi para as batidas interrompidas e os planos inacabados, que futuramente cruzariam com outros bons planos, e fariam alguma diferença. Foi também para que soubessem que alguém já sabe, e que nem todos são tão alheios nem tão pouco importantes.
Esse foi porque me importo. E porque eu (afortunadamente) continuo batendo por dentro.
É que às vezes quase esquecemos como o mundo se tornou injusto e furioso, e criamos nosso próprio País das Maravilhas, sem pensar que até mesmo a própria Alice dessa história desperta no final.
O problema é que raramente nós despertamos.

4 comentários:

  1. é realmente muito triste que o mundo em que vivemos agora não possa ser sempre chamado de "em que vivemos".
    infelizmente injustiças como essa acontecem sempre, em todo o mundo.
    legal a iniciativa desse seu post. fez muito bem. :)

    :*

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  2. Perfeito. Todos deveriam ler esse texto pra ver se alguém desperta do seu Pa´s das Maravilhas...

    ah, e adorei seu comentário. Não importa o tamanho, o que importa é o que você conseguiu me dizer com ele.

    bjaoO ;*

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  3. Fiquei chocada quando eu ví essa notícia .
    Triste . Cada dia pior esse mundo .

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  4. O mundo é tão injusto que às vezes me pergunto se ainda quero existir.

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