I just want to be there when the morning light explodes
On your face it radiates
I cannot escape
I love you 'till the end
Eu abro meus olhos lentamente, nessa minha mania de abrir os olhos durante a noite e verificar se estou viva, segura. Procuro a parede cor-de-rosa do meu lado esquerdo, e noto que ela está branca agora. Susto. Ela sempre fora rosa desde uns quatro ou cinco anos atrás, quando decidi que a parede ao lado da minha cama seria bordô, e meu pai mandou pintarem de rosa bebê. Essa parede branca não é a minha parede rosa. Então abro mais um pouco os olhos, mas não me atrevo a movimento algum - ainda não sei onde estou. Vagarosamente, arrisco esticar uma das mãos para tocar na cabeceira da cama. E não há cabeceira. Então essa cama sem cabeceira também não é a minha cama. Novamente o susto. E por que é mesmo que está tudo tão claro assim de madrugada? Ah, sim. Deve ter amanhecido. É, certamente... mas, o meu quarto também não tem janelas. Essas casas antigas e conjugadas, sabe? De quando as pessoas eram cinzentas dentro de seus pequenos cômodos particulares, mas com um quintal enorme onde receber o sol. Mas aqui, aqui na cama, tão diretamente o sol? Não, esse não é o meu quarto. Céus, não é o meu quarto. Penso desesperada que algo de muito errado acontecera, e que talvez eu estivesse presa em algum sonho. Mas paro a respiração e vejo que é real. Meu cérebro dispara aquele alarme que me faz inspirar o ar novamente, com toda a força. Então inspiro e desistindo de tanto controle, solto de vez. Vou acordar, penso. E é quando um braço me envolve e alguém ao meu lado também suspira forte. Acordei ele, me lembro. ELE. E de repente estou viva. Estou viva e segura e acordada. Eu sei onde estou: ele esteve dormindo ao lado, então eu estou no lugar certo. E me viro vagarosamente para vê-lo. Para ter certeza, sabe? É a enésima noite que durmo aqui e ainda se parece tanto com um sonho, ainda guarda tanta sorte, que me acordo alheia e de repente é preciso verificar. Me viro e sim, que lindo, aqui está ele de olhos fechados, foi só um suspiro. Fecho os meus novamente e bem apertados, toda contente por dentro. Então sinto sua mão tocando de leve o meu rosto, como quem também verifica se sou eu quem está ali, e se realmente estou. Decido não abrir os olhos, deixo que ele arraste os dedos pelo meu cabelo e enfim, sorrio. Será que ele também acordara perdido? Penso, mas não pergunto. Até que bem baixinho, bem levinho, bem quietinho, ele me diz: te amo. E nessas palavras, nessa fração de minuto, é que eu me encontro. "Também te amo."