No porta-retrato havia uma foto em preto e branco.
Não havia mais cor, porque também já não havia mais tempo. Era a conjugação de todos os bons verbos no pretérito.
Dois sorrisos e um segundo.
E havia sempre alguém para olhar. Alguém para supor como a vida seria, se acontecesse inteira naquela foto. Alguém para contar que a história havia realmente acontecido, e tentar se reconhecer, depois de ter andado tanto, à frente de tantas coisas – para voltar ao mesmo lugar.
Era fácil questionar-se. Perguntar, finalmente, o que o tempo havia feito com as chances desperdiçadas. Os planos construídos, as regras quebradas, os olhares desencontrados, as mãos encaixadas, os sorrisos atrapalhados, ou qualquer “amo você” deixado para o dia seguinte. O que tudo isto representava agora?
A foto.
Era impossível ignorar.
Dois sorrisos e um segundo.
A pausa definitiva de um momento passageiro. Sem os seus sons, sem o seu gosto, sem suas sensações. Sem o ritmo que se acelerava batida por batida. Sem os movimentos que se completavam gesto por gesto.
Muitas coisas não cabiam num porta-retrato.
Por mais que quem o olhasse, sentisse caber ali.
É que as pessoas, às vezes, deixam a vida passar ao contrário. Guardam as soluções para depois dos problemas. Guardam a curiosidade para depois dos segredos, a verdade para depois das ilusões, a iniciativa para depois dos desfechos. Deixam a vontade de dar os primeiros passos para quando a estrada chega ao fim.
As pessoas, às vezes, costumam fazer tudo igual.
Vivem pela metade. Reservam parte de si mesmas, parte de seus afetos e de suas possibilidades. Se armazenam para depois.
Dois sorrisos e um segundo.
Depois disto, talvez nada aconteça.
Deixar passar o tempo, ser inteiro sem um pedaço, pretender completar-se amanhã, emoldurar-se em quatro margens, alcançar o último ponto e desejar voltar ao primeiro.
As pessoas, às vezes, costumam fazer tudo igual.
E para nos tornar diferentes, teremos que partir do início, sem que isto seja um final.
Não me importa como termine.
Vou emoldurar sua foto em preto e branco.
E é deste jeito, que nós vamos começar.
Respondendo comentários anteriores em breve.
ResponderExcluirAdorei o texto.
ResponderExcluirE enquanto eu lia o seu texto me recordava de exatamente um foto em preto e branco com dois sorrisos que eu guardava na minha cabeceira.
Que bom que as coisas passam, mas ao mesmo tempo me sinto estranha vendo que o tempo passou rápido demais e não me reconheço mais naquela foto.
enfim, que você tenha sorte e muita felicidade no seu começo.
beijo linda :*
Larissa você me fez lembrar Drummond "Itabira é uma foto, mas como doí." Poema de Itabira. Poema dedicado a cidade de Drummond. Há a melancolia do lembrar, que é reviver.
ResponderExcluirAbraço,
R.Vinicius
É impossível ignorar. :)
ResponderExcluirPois é, eu faço teatro. E quem sabe sim, um dia me veja atuando! Hahaha :*
[...] Gosto de vir aqui porque a cada post encontro uma palavra nova, um jeito novo vindo de olhos que vêem a vida de maneira diferente, incomum.
ResponderExcluirEu sou conduzida até conseguir ver, e posso concluir que é verdadeiro, é a mais pura verdade.
Mas que belo texto!
Um beeijo!
Acho que se pensássemos só nas consequências nunca faríamos nada...
ResponderExcluirComo sempre, o texto está lindo =))
bjaooo.
Ao ler esse texto, me lembrei de Engenheiros do Hawaii, não sei porque. Belo texto, para eu que adoro fotos em preto e branco ainda...
ResponderExcluirParabéns, vou segui-la!
Abração
Mateus h.
Lindo blog, linda postagem!
ResponderExcluirbeeijo ;*
tudoo!
ResponderExcluirtipo que eu nao entro no meu blog a muito tempo.totalmente sem tempo ,mais agora minha vidinha ta em ordem,e recebi muitos selos..
tem um la no meu blog pra vc..tipo que to acompanhando seu blog..ve se ta legal o meu e acompanha shasuahsa..beijao e nao esquece o selo *---*
lari alem do selo postei mais um..comenta oq acho
ResponderExcluirbj
A foto, me trouxe você,
ResponderExcluirseus beijos
seus abraços
nosso momento,
ah! mais que pena é só uma foto
e não é você.
belo o post.
o mais legal é colorir a vida preta e branca.
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