Me deparo com momentos em que não me entendo. Então penso que tanto faz. Haveria diferença, se eu apenas não entendesse, sem encaixar um pronome tão pessoal? É que sem esse encaixe, viria o entendimento. Gratuito. Seria tão sem propósito que - como todas as coisas não oportunas - deixaria de fazer sentido. E ainda nem faz.
É que preciso conviver diariamente com manias que, provavelmente, gastaram alguns anos para tornarem-se diárias. Tão incongruentes. Essa saudade das coisas que ainda não parei para viver, ou que somente viverei quando me movimentar o bastante para nem perceber. Saudade dos planos, das vontades, das chances que ainda estão etiquetadas e reservadas para acontecer. E essa ansiedade dos dias seguintes, pelos dias que já passaram e que fui obrigada a deixar para trás - às vezes, sem nem mesmo olhar de volta.
É como uma espécie de miopia, através da qual consigo enxergar mais verdadeiramente o que os outros aparentemente não enxergam. Mesmo que de uma forma embaçada. E é disto que vem a minha nitidez.
Conforto estranho. Há uma certa paz morando ao lado do fato de não saber tudo, mesmo daquilo que eu sei.
Como é tão mais solitário estar com todos os lugares preenchidos à volta, e sentir sensação de vazio. Ou acreditar que se estivessem, de fato, todos desocupados, a ideia da falta talvez não soasse assim tão mal. Talvez.
Me atrapalho e quase tropeço, diante daquelas formas de amor, em que depositamos nossas expectativas, esquecendo (ou fingindo não saber) que a probabilidade das recompensas quase nunca sopra a favor. Qualquer dia desses, tentarei soprar primeiro, como se amor fosse um barquinho de papel - algo pequeno e navegante, que se adapta bem nas poças de algumas chuvas, até se desmanchar. Porque amor também desmancha.
E como se chama o que permanece? Sabe, aqueles caquinhos que fazem com que determinada pessoa seja para sempre aquela determinada pessoa, mesmo depois do que se desmanchou. Como se chamam as coisas que nunca batizaram, registraram ou catalogaram? Penso que sejam essas as que mais quero encontrar, andando mais e mais devagar, até que seus passos alcancem os meus. Coisas inacreditáveis, justamente por sabermos o que são, sem precisarmos chamá-las.
Então deve ser isso. Não entender é uma linha. Estreita e tão instável, que separa o óbvio e o arrebatador, apenas o suficiente para que não se confundam. E até quando não me entendo, adivinho: minha necessidade é somente a de não confundir.
este assunto me causa loucura. me sinto esquizofrénico as vezes. rs
ResponderExcluirmas vc soube colocar muito bem e de maneira bem organizada. mas confesso, é frustrante querer nos atormentar na solidão atrás de respostas. prefiro ficar sozinho para me encontrar. gosto daqui
Ensaio belíssimo
ResponderExcluire
muito maduro, Larissa.
Parabéns.
Um bjo.
Acho que a maioria das coisas não foram feitas para serem entendidas.
ResponderExcluirAdorei o post.
bjobjo ;**
Minha querida flor,
ResponderExcluirMas que coisa mais verdadeira! E por isso mesmo, muito bela.
Às vezes penso que se encontrasse 999 respotas para mil perguntas, ficaria tão insatifeita e triste quanto se não conseguisse responder nenhuma. Essa pergunta que falta é o seu próprio eu?
Sabe aquela frase, "Sei que nada sei?" Ela foi dita exatamente nesse sentido: não importa o quanto a gente aprenda, o que sabemos sempre será pouco pra compreender o enigma que é a vida. E isso é muito frustante, na minha opinião. Então um grupo de pessoas prefere dizer que sabe (mas não entende nada), e outro grupo de pessoas prefere fechar os olhos e procurar alguma coisa que as possa completar (meu último post, lembra?).
Mas também existem os curingas, os que tem coragem de perguntar(eu acho que vc está nesse grupo), e querem chegar ao verdadeiro conhecimento. O mais importante: o fato de saberem tão pouco não os deixa em paz.
Te admiro muito, viu?
Um grande beijo!
Oi larissa, sou prima de Eduardo que estuda com vc. Sempre leio seus post. Mas este transcendeu minha emoção...me identifiquei bastante.
ResponderExcluirParabééns moça!Sou fã.
Amei!Como sempre amo...
ResponderExcluirNão confundir é a coisa mais complicada que há;
beeijos, meu comentario foi tosco, eu sei.