Eu não preciso escrever seu nome, mas preciso te escrever, você entende? Preciso escrever sobre aquele carro estacionado perto da calçada, onde você se encosta, e sobre como eu gosto de me balançar para um lado e para o outro na sua frente, fazendo os seus olhos balançarem comigo. Eu preciso escrever sobre a cor desse carro, e sobre as cores que tomei emprestadas dos seus olhos, porque isso também é parte de você. Você que é parte de nós, tanto quanto eu também sou. Então somos o carro, as cores, o balanço e a calçada. Eu escrevo porque preciso guardar todas essas coisas que não posso envolver em plástico bolha, nem nos jornais descartáveis que talvez um dia tenham algumas linhas assinadas por mim. Preciso escrever enquanto meu nome fica somente na sua voz, porque nesse momento é como ele soa melhor. Nesse momento é melhor até aquilo que não soa, porque o silêncio ao seu lado é um grito interno de quem não precisa dizer mais nada. Os seus olhos piscam, e eu me perco nessa
fração de segundo enquanto eles se fecham. Mas é tão lindo ser a primeira cena dos seus olhos
recém-abertos. Meus corações disparam: um em cada centímetro encostado num centímetro seu. E de repente o carro, a calçada e as cores. De repente seu sorriso se formando, e de repente estar pulsando em sincronia com você que, na verdade, é hoje a minha parte mais
pulsante. Eu quero respirar a sua respiração, como se esse fosse o sopro mais puro do mundo, e quero caminhar deixando as minhas pegadas dentro das suas, para saber que vamos ao mesmo lugar. Eu procuro pelas iniciativas e frases que me faltam, mas esses sentimentos me distraem tanto, que eu não encontro nada além de nós dois. Assim em silêncio, quando nos observamos como se fôssemos o inacreditável um do outro. E para mim você é. Para mim, é você. Então escrevo para que continue sendo, mesmo que um dia não seja mais, entende? Nosso por enquanto é quase eterno. E eu não preciso escrever seu nome, mas preciso te escrever. Rabiscando meus cadernos durante as aulas, preenchendo as folhas com palavras que insistem em ter as mesmas letras que as suas, e que por isso, me encantam mais. Eu preciso te escrever agora mais do que antes. Enquanto o mundo permanece o mesmo, enquanto as pessoas ainda bocejam e se
entediam, enquanto os telefones ainda tocam e as assustam... enquanto a vida continua para todos esses rostos onde procuro sem sucesso os seus traços. Eu me pergunto como tudo pode parecer tão igual se já nem é. E surge essa necessidade de frases, parágrafos, páginas, capítulos... tudo para ser mais fácil essa percepção, essas respostas, essas vidas, esses bocejos, esses telefonemas e esses traços. Eu preciso te escrever. Entende isso: depois do meu coração, as palavras são o lugar mais seguro que eu encontrei para nós.