segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Medo

Eu quero vomitar essas incertezas todas que me amargam. Eu quero abortar esse medo camuflado entre todos os meus desejos insanos e também inseguros. Eu quero colocar para fora essas dores que me voltam em Agosto, como bobagens tão pequenas quanto cacos finos de vidro encravados nos meus pés. Eu quero caminhar sem senti-los, sem que se enterrem ainda mais fundo enquanto não assumo a coragem de pinçá-los e jogá-los fora. Se explico, me dizem que são coisas pequenas, miudezas, insignificâncias... então eu guardo as minhas explicações no mesmo lugar onde afundo minhas angústias. E as mastigo sozinha. Secas, ácidas, travadas. Minhas angústias de elevador nunca descem completamente. Elas caem e depois voltam. Como a terra que decanta no fundo de um copo com água, e que inevitavelmente sobe quando é revolvida. Então estou revolvendo na lama que fiz com minhas águas e minhas terras? Talvez. Mas essa chuva que não deveria chover em Agosto, esse frio quando meu casaco já nem esperava sair do armário, essas nuvens, esses sinais de ausência de obviedade no tempo... tudo se torna tão pouco óbvio que eu não posso prever. E sinto mil espécies diferentes de um mesmo medo - mil cruzamentos híbridos entre o que eu desejo e o que eu me proíbo desejar. Pessoas partem, vidas seguem, sabores se dissolvem. E eu espero pelos dias em que minhas angústias vão decantar no fundo de mim mesma, quietas, densas, inertes. E me perdoe pelo peso das palavras: eu espero pelas minhas angústias mortas. Para me sentir mais viva.

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