quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Posso dormir aqui?
Então ela apagou as luzes e encontrou a mesma passagem que procurava no escuro aos cinco anos. O caminho era o mesmo, tão certo quanto o número de passos e a distância entre os móveis. A porta, no entanto, havia diminuído tão significativamente que era possível alcançar a maçaneta sem esticar as pontas dos pés. Ironicamente, sentia como se esses novos tamanhos e suas proporções fossem mais uma constatação de seu medo secreto: você cresceu, garotinha. Mas tudo bem, tudo bem... por uma noite seria como retroceder, regredir, rebobinar. Então sem bater ou pedir licença, ela abriu a porta como teria feito antigamente, e invadiu o espaço sem sentir-se invasora - como também costumava fazer. Deixou as sandálias e subiu descalça na cama, como se fosse novamente tão leve e discreta quanto fora outro dia. Ambos dormiam tão quietos, que ela acomodou-se entre eles com aquela mesma antiga facilidade. Desejava aninhar-se, aquietar-se. Era preciso pensar. Era preciso, aliás, pensar bastante - mas isso às vezes doía. E aquele lugar entre os dois era exatamente o refúgio de todas as dores. Não era? Aqui não entram os fantasmas... ela lembrava ter ouvido há muitos anos atrás. Durma, anjo, que amanhã é outro dia... Ou teria sido ontem? De qualquer modo, era preciso proteger-se desses fantasmas, desses sustos, desses medos, desses dias seguintes que chamavam-se todos amanhã. Era preciso proteger-se de si mesma, e essa sempre fora a parte mais necessária e mais desgastante. No momento era preciso proteger-se de tudo. E entre eles - as criaturas mais indestrutíveis de seu mundo inventado - ela estaria salva.
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Poxa Larissa... regredi a minha infância... Muito bom, muito lindo!
ResponderExcluirMaravilhoso te Ver no Sussurros... òtimo te ter por lá...
Te abraço com carinho!
:D
Ps.: Devo dizer que adoro essa sua foto ai do lado.
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São mesmo indestrutíveis, não são? Ao contrário de tudo que se possa pensar ou fazer, vão se tornar indestrutíveis quando precisarmos. :)
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei tanto desse conto. Me lembrou das vezes em que eu me escondia debaixo da cama dos meus pais para dormir mais seguro. O bom era que eu sempre acordava tranquilo e de volta a minha cama, na manha do dia seguinte. Beijos, garotinha!
ResponderExcluirQue texto maravilhoso, Larissa!!!
ResponderExcluirExplêndido!!! =)
Amei..
Beeijo
http://fofocast.blogspot.com
Que texto mais perfeito, me vi nele algumas vezes!
ResponderExcluirQuando somos crianças tudo se torna tão mais fácil ne!
Beijos flor e bom fim de semana!
É difícil uma pessoa que não tenha em sua história, lembranças como estas, retratadas em seu texto.
ResponderExcluirAlgumas vezes também já repousei entre meus pais... Ali eu estava entre os seres mais importantes da minha vida.
Obrigado por me fazer recordar isso.
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Seu comentário não foi insâno... pra mim soou como algo 'necessário de se escutar', e que me fez um bem inimaginável. Você não me fez decorar o seu nome, seu blog e seus textos, atoa... Você conquistou isso aos poucos, e de pouco em pouco se instalou na minha memória. Rs'
Um beijo em seu coração, Lari!
Fique com Deus!
Que lindo seu texto :) Adoro esse tipo de texto, muito bom!
ResponderExcluirBeijos
Seu texto me tocou. Eu "fugia" muito pro quarto dos meus pais quando era pequena, sempre tive medo de escuro e medo dos meus sonhos. Hoje ainda tenho vontade de fazer isso, às vezes, mas por algum motivo que desconheço, não consigo.
ResponderExcluirAdoro tudo o que você escreve.
Querida flor!
ResponderExcluirSeu texto me ajudou tanto agora. Sabe, eu sempre corria pra cama dos meus pais, do jeitinho descrito no post. Mas antigamente a proteção deles era maior, ou será que eu era mais fácil de proteger? " Era preciso proteger-se de si mesma, e essa sempre fora a parte mais necessária e mais desgastante." Ah, é exatamente isso! Não consigo pensar, não consigo escrever porque eu pareço grande demais para enfrentar. Me sinto cobrada, invadida, parece que se eu não enfrentar as coisas sozinhas vão se resolver a maneira delas.
Desculpa o desabafo, mas vc é minha amiga. Foi nisso o que o post me fez pensar. Se essas desculpas não colarem, posso ainda dizer que já sou de casa. haha
Um beijo
"Era preciso proteger-se de si mesma, e essa sempre fora a parte mais necessária e mais desgastante".
ResponderExcluirÉ quase impossível não ser o texto e lembrar da infância, um texto todo bonito e cheio de grandes verdades...
Beijo!
Eu gostei tanto do seu post, juro que fiquei encantada. Qual criança nunca procurou a proteção dos pais quando estava com medo? E com isso passou a se sentir a pessoa mais inatingível de todas?
ResponderExcluirÉ uma pena que depois de crescidas, não é mais tão assim encontrar proteção.
Me vi ai em, lembrei da minha infância de quando eu só dormia quando deitava na cama de meus pais.
ResponderExcluirProteção.
Lindo texto, Beijos!
Maravilhoso! Me levou a um passado que há muito tempo não acontece ... E não acontecerá por muito mais tempo ... Quem sabe na próxima geração, onde serei eu a pessoa que afastará os fantasmas do amanhã de uma outra pessoa, pequena e indefesa ...
ResponderExcluirUm beijo grande. Lindo texto! :)
por vezes, nos esncondemos tanto,né?
ResponderExcluira nossa alma fica exposta, os sentimentos ficam mais acelerados.
''além de dois existe mais'' (Raul Seixas)
Venero de forma infinita tudo que vc escreve, não só aqui,mas em meu canto tb. Muito obg,sim?
Pf, se puder me add no orkut?
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=12687074252640049635
bjs.
Seu texto lindo e doce me fez lembrar de quando eu fugi para o quarto dos meus personagens de desenho animado favorito, para eles me salvarem dos fantasmas...
ResponderExcluirOLhos cheios de lágrima *-*
Seus textos, sempre lindos!!