quinta-feira, 26 de maio de 2011

Água com açúcar

Não, menina, não chora. Isso tudo é tão pequeno, isso tudo é tão bobagem... não chora, menina. Ou eu terei que recolher suas lágrimas com um dos meus dedos, e devolvê-las todas para os seus olhos antes muito menos embaçados. Não chora, que amanhã é outro dia, e os dias seguintes são seu sempre, são para sempre. Você nem sabe, mas está tão linda com o queixo apoiado nas mãos, que nesse instante eu sinto uma vontade imensa de carregá-la em meus braços, para longe de tudo que possa fazer-lhe algum mal. E você deve ser tão leve de se carregar, mesmo com esse peso de mundo nas costas. Quem consegue chorar com tanta delicadeza certamente praticou muito. E eu não quero que você pratique mais, menina. Não se machuque, não se atormente, não se culpe, não se aflija. Não chore. Essas coisas todas são como açúcar se dissolvendo naqueles copos cheios de água - aqueles que lhe entregavam quando não sabiam como consolá-la. Essas coisas são o açúcar. E você, menina, você é a água. Você é o copo transbordando em tempestades desnecessárias. Mas você é também a calmaria de oásis curando a sede. Então não chore, não escorra, não transborde. Seja mais oásis e menos tempestade. Seja água e deixe que essas coisas sejam açúcar, deixe que essas coisas todas que pesam sobre o queixo apoiado nas mãos sejam solúveis. E por favor, menina, enquanto essas coisas se dissolvem, cuide para que - assim como a água dissolvendo o açúcar - você consiga se tornar sempre um pouco mais doce.

9 comentários:

  1. Ai que lindo Larissa!
    Às vezes é tão difícil deixar que as coisas simplesmente se dissolvam... às vezes essas pedrinhas de açúcar são tão duras... mas a gente consegue. Com ou sem lágrimas, uma hora a gente consegue. ;)

    beijão!

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  2. Que lindo! E mesmo depois da tempestade o sol brilha pra nós. =)

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  3. caramba, que texto lindo

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  4. Ai, as palavras me emocionaram. Parabenizo-lhe por conseguir colocar sentimentos nesse texto. Ficou realmente lindo. É muito difícil, quando se é apenas uma menina, deixar que os problemas simplesmente se dissolvam. E ainda que se dissolvam dentro da água que somos, vão sempre deixar o seu gosto dentro de nós, suas marcas. Cicatrizes.

    Beijos,
    Débora.

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  5. Larissa,

    Eu volto e você me vem com tão belas palavras.
    É sempre muito bom te ler.
    É sempre muito bom ver o mundo, assim, dessa tua maneira, pelos teus olhos.
    Você consegue costurar tão bem as palavras e torná-las tão compreensíveis que é difícil não se emocionar. É difícil não se identificar.

    E seria muito bom se conseguíssemos ser tão solúveis como um copo de água. Porém, às vezes, não conseguimos ver as coisas com tanta transparência e o desespero é o que mais nos assola.

    Meu beijo!

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  6. É bom a menina ter cuidado em desejar tanto ser um oásis para que ela não se torne seca e amargurada. Tem que haver equilibro entra a água, o oásis a as emoções açucaradas.

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  7. Lindo conto. Lembrei de um que escrevi no mesmo molde. Só que ele estava como uma carta. =]

    Gostei do blog. Estou seguindo^___^

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  8. Que lindo...que lindo!

    Como seria bom poder contar com uma companhia assim, tão compreensiva e sábia, tão inteira em momentos de tristeza.

    Com palavras tão certas, fica mais fácil ser água e dissolver o açúcar. ;)

    Um beijo, flor.

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