Você já sentiu-se separando de alguém? Como quem está inerentemente obedecendo a um comando cósmico, pré-determinado, socialmente aceito ou simplesmente a uma ordem incontestável? Naquele dia, eu lembro das notas da música que meus fones me cantavam, e lembro das cores que se misturavam com vidro e com reflexos na janela que eu olhava. Mas a parte que mais me volta é a sensação de separar-me. Indo para um lugar enquanto as pessoas com as quais sempre havia estado, iam para outro. Sem precisar de meus conselhos, de meu nome, de minha permissão ou de minha presença. Lembro de precisar infinitamente de cada uma delas e ordenar a mim mesma: não precise. Havia outras pessoas, outros sorrisos cúmplices que - eu viria a descobrir mais tarde - eram por vezes mais sinceros. Mas no momento, me doía. O som, o vidro, a música, o vento e qualquer coisa que resolvesse fazer parte daquele dia.
Não sei bem porque lembrei dessa cena exatamente agora, mais de dez meses passados, depois de ter aprendido a deixar esse roteiro inteiro desbotar. Já que apagar eu não posso. Porque de todos os passos seguintes, de todas as seguintes voltas dos pneus naquela ou em outras estradas, eu precisei levar uma fração daquele dia. Para ser mais solta, para desprender como velcro, abrir e separar como um zíper, não como costura amarrada. Naquele dia eu não deixei de gostar das pessoas que se bifurcaram de mim. Eu apenas passei a levá-las mais leves, ao lado e não tão por dentro. Naquele dia, quando outras pessoas me disseram "estou aqui", eu aprendi a estar. E inevitavelmente, passei a conseguir o que apenas as pessoas que eu não admirava conseguiam: estar sendo algo por fora, mesmo quando no fundo não sou.
E naquele carro, enquanto pressionava os fones com meus dedos contra os ouvidos, eu os imaginava rindo ao fazer planos que não me incluíam. E imaginei incansavelmente, até excluir-me daquilo tudo. Até encontrar outros lugares onde coubessem as minhas antigas inseguranças - e também as novas que surgiram dali. Lugares que, caso a alguém interesse saber, eu encontrei.
E ninguém precisa ter lido até o final, ou compreendido tanto quanto apenas minhas desconfianças disfarçadas hoje compreendem. Passados mais de dez meses, eu só precisava dizer o que nunca fora dito. Já que ninguém faz mesmo ideia do quanto eu mudei naqueles minutos que me levaram de casa até onde eu deveria ter estado desde o começo. Eu só precisava escrever e sacramentar: naquele dia, uma parte de minha fé nos outros saiu para passear com minha ingenuidade. E jamais elas voltaram inteiras. Naquele dia eu fui mais filha única do que sempre fora, atestando meu próprio segredo de infância: aprenda a não precisar de alguém para brincar com você. E naquele dia, eu me bastei.
Não sei bem porque lembrei dessa cena exatamente agora, mais de dez meses passados, depois de ter aprendido a deixar esse roteiro inteiro desbotar. Já que apagar eu não posso. Porque de todos os passos seguintes, de todas as seguintes voltas dos pneus naquela ou em outras estradas, eu precisei levar uma fração daquele dia. Para ser mais solta, para desprender como velcro, abrir e separar como um zíper, não como costura amarrada. Naquele dia eu não deixei de gostar das pessoas que se bifurcaram de mim. Eu apenas passei a levá-las mais leves, ao lado e não tão por dentro. Naquele dia, quando outras pessoas me disseram "estou aqui", eu aprendi a estar. E inevitavelmente, passei a conseguir o que apenas as pessoas que eu não admirava conseguiam: estar sendo algo por fora, mesmo quando no fundo não sou.
E naquele carro, enquanto pressionava os fones com meus dedos contra os ouvidos, eu os imaginava rindo ao fazer planos que não me incluíam. E imaginei incansavelmente, até excluir-me daquilo tudo. Até encontrar outros lugares onde coubessem as minhas antigas inseguranças - e também as novas que surgiram dali. Lugares que, caso a alguém interesse saber, eu encontrei.
E ninguém precisa ter lido até o final, ou compreendido tanto quanto apenas minhas desconfianças disfarçadas hoje compreendem. Passados mais de dez meses, eu só precisava dizer o que nunca fora dito. Já que ninguém faz mesmo ideia do quanto eu mudei naqueles minutos que me levaram de casa até onde eu deveria ter estado desde o começo. Eu só precisava escrever e sacramentar: naquele dia, uma parte de minha fé nos outros saiu para passear com minha ingenuidade. E jamais elas voltaram inteiras. Naquele dia eu fui mais filha única do que sempre fora, atestando meu próprio segredo de infância: aprenda a não precisar de alguém para brincar com você. E naquele dia, eu me bastei.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu ainda nao aprendi essa lição..
ResponderExcluirSempre sofro quando percebo que as pessoas não me amavam tanto quanto eu as amava .. e talvez ainda ame.
Quem sabe um dia eu me baste .. com a prática vem a perfeição.. e isso tem se repetido várias vezes em minha vida..
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Eu poderia jurar que voce escreveu esse texto pra mim.. rs.
Sabe, lendo seu blog eu percebo que somos "parecidas" .. nos pensamentos e sentimentos.. voce sempre escreve o que eu queria escrever, mas nao encontro as palavras certas..
Texto perfeito.
beijos, beijos.
Ual, que lindo *-*
ResponderExcluirAdorei as suas palavras :')
Um pensamento que pode ser válido e ainda por cima, pode te dar forças para continuar é que, o zíper, mesmo depois de aberto, continua com sua ligação abaixo, podenso voltar à mesma "ligação" que tinha antes.
ResponderExcluirMuitas pessoas (não todas), por falta do que comentar, dizem: "Nossa, esse texto me descreveu" ou "Eu me vi nesse texto"... E eu, de modo sincero vou utilizar uma dessas frase... Ele me fez lembrar uma vez que estava voltando de uma cidade muito querida, que abriga uma boa parte de meu melhores amigos. Escutando um CD que ganhei de um deles, deixei a emoção falar mais alto e as lágrimas rolaram.
Obrigado por me fazer recordar isso!
Um beijo, toda a atenção, e todo o carinho... Ficam aqui, junto de seus textos, Larissa!
Fique com Deus!
Lari, NÃO PARE!
ResponderExcluirO seu texto descreve pessoas, lembram momentos, podemos usar até como aprendizado.
Seu modo de escrever é doce, puro, sensível.
Separar, que coisa difícil né?
A gente acaba aprendendo a mudar as coisas de foco, a deixar pessoas mesmo que o amor ainda exista.
Achei linda a forma que você escreveu; "Lembro de precisar infinitamente de cada uma delas e ordenar a mim mesma: não precise."
LINDO, LINDO, LINDO.
Nossa, tu não tem ideia de como me identifiquei com esse texto. Estou passando por essa fase de 'separação', me afastando de algumas pessoas e sei como dói, mas também tô aprendendo que posso viver sem elas, que existem outras pessoas que merecem muito mais a minha amizade. A gente cresce e vai aprendendo o que e QUEM realmente vale a pena.
ResponderExcluirbeeeijo :*